As lesões ligamentares dos dedos e punho são bastante comuns. A maioria delas é parcial e cicatriza sem deixar sequelas. Outras, fazem parte dos maiores desafios da cirurgia da mão.
O termo “pulso aberto” é bastante corriqueiro. Não há uma lesão específica que se encaixe nessa gíria. Mas, instabilidades da articulação rádio-ulnar distal, lesões do ligamento escafo lunar e fraturas-luxações do carpo podem representar cientificamente o que seria um punho aberto. Acredito que as dividir por região seja a melhor forma de se entender.
Instabilidade da articulação rádio-ulnar distal (ARUD)
O complexo da fibrocartilagem triangular (CFCT) é uma estrutura que se origina na região medial do rádio, sobre a fossa sigmóide (onde a ulna se articular com o rádio) e se insere na base e topo do estilóide ulnar. Há, ainda, os ligamentos ulno-carpais e rádio-carpais que auxiliam na estabilidade dessa região.
A lesão do CFCT ocorre com rotação do punho com a mão fixa e pode ou não estar associada a fraturas da região distal do rádio ou do carpo.
Quando diagnosticadas na fase aguda, a maioria delas cicatriza ao se imobilizar o punho, sem permitir a pronossupinação. Entretanto, algumas dessas lesões vão precisar de tratamento cirúrgico.
O reparo artroscópico é a melhor opção para a maioria desses pacientes. A cirurgia é realizada de forma minimamente invasiva e o resultado pós-operatório costuma ser excelente.
Quando a instabilidade é crônica, deve-se investir na estabilização da ARUD. Há diversas técnicas com enxerto de tendão para se recuperar a função. Todavia, caso haja degeneração articular, procedimentos de salvação são a melhor opção. Um deles é conhecido com Sauvè-Kapandji, quando realizamos a artrodese da ARUD e criamos uma pseudartrose na região distal da ulna para permitir a pronossupinação.
Lesão do ligamento escafolunar
O ligamento que une o osso escafóide e o semilunar é peça chave da biomecânica do punho. Os ossos do carpo fazem movimentos sincrônicos quando mexemos o punho em flexão e extensão ou quando realizamos desvio radial e ulnar.
Com a ruptura deste ligamento, a harmonia é perdida. Como resultado, há perda de movimento e força do punho. Se o punho continuar a trabalhar fora do eixo ideal, haverá piora do desarranjo do carpo e artrose. Essa artrose tem um padrão conhecido de progressão.
O reparo precoce do ligamento é o priorizado. Há diversas técnicas para isso, desde a colocação de fios de Kirschner, até reinserção do ligamento com âncoras ou reparo artroscópico. Em lesões crônicas, ainda não há um padrão ouro para reconstrução ligamentar.
Lesão de Stener
A lesão do ligamento colateral ulnar da metacarpofalângica (MF) do polegar, com interposição da aponeurose do adutor do polegar, é conhecida como lesão de Stener.
Uma vez que há uma estrutura entre o ligamento e o osso, não haverá cicatrização.
O ligamento em questão é o responsável por manter a estabilidade da MF do polegar. Sem sua presença, não é possível fazer força de pinça.
O tratamento cirúrgico consiste em abrir a aponeurose do polegar, reinserir o ligamento com pontos transósseos ou com uma âncora (“parafuso” que contém fio de sutura forte para o reparo do ligamento).
No pós-operatório, deve manter imobilização por 6 semanas, aguardando a cicatrização.
Lesão ligamentar nas metacarpofalângicas e interfalângicas
Quando tratadas com imobilização ou solidarização com o dedo vizinho, costumam cicatrizar sem maiores problemas.
Uma fonte constante de reclamação dos pacientes é o tempo de diminuição do volume da interfalângica proximal após contusões articulares e lesões ligamentares parciais, que pode chegar a 9 meses.
Luxações das metacarpofalângicas e interfalângicas
Diferentemente do que é dito na mídia esportiva ou popularmente por leigos, luxação é a perda da congruência articular. Em termos simples: é quando a “junta sai do lugar”, necessitando, geralmente, de manobra para sua redução.
Perda do final da extensão nas interfalângicas é um resultado bastante comum. Entretanto, sequelas maiores com perda de mobilidade, força e até artrose podem acontecer, a depender do mecanismo de trauma, associação a fraturas e demora para diagnóstico e redução.
Artigo escrito pelo Dr. Diego Figueira Falcochio
Médico Ortopedista especialista em Cirurgia da Mão e Microcirurgia