Lesões ligamentares dos dedos são extremamente comuns.
A maioria dessas lesões são parciais e cicatrizam sem deixas sequelas. Outras, necessitam de tratamento cuidadoso para evitar instabilidade ou perda de movimento dos dedos.
Para entender as lesões ligamentares da articulação interfalângica proximal (IFP) é necessário compreender muito bem a sua anatomia.
Temos as estruturas ósseas que se encaixam de maneira hermética e uma “caixa” de ligamentos que impedem que a articulação “saia do lugar”. Na parte palmar da articulação, temos a placa volar ou placa palmar que se insere distalmente na falange média e se origina pelos ligamentos “em rédea” (checkrein)na falange proximal. Lateralmente, temos os ligamentos colaterais próprio e acessório, que impedem o desvio lateral (radial e ulnar) na articulação (figura 1). Deve-se lembrar que na parte do dorso do dedo temos a banda central do aparelho extensor que ajuda na estabilização.
Para que o dedo sofra uma luxação (isto é: que a articulação saia do lugar, perca a congruência) precisarmos lesar pelo menos “2 lados” dessa “caixa”.
As lesões ligamentares da IFP são as mais comuns da mão.
Podem variar desde entorses simples, até lesões completas do ligamento, luxação da articulação e fraturas-luxação.
As radiografias são um, excelente método diagnóstico para estas lesões.
Permitem que observemos a congruência articular, fraturas-avulsões e fraturas por impacção.
Devem ser realizadas em 3 incidências, pelo menos. Frente, perfil absoluto e oblíquas. Não são incomuns erros diagnósticos por falta de uma das incidências, principalmente a lateral ou perfil. Radiografias de toda a mão são insuficientes.
O especialista deve procurar pelo sinal do “V” que indica a subluxação (figura 2).
Devemos avaliar o paciente clinicamente pela mobilidade ativa dos dedos testes passivos para avaliar a instabilidade:
- Grau I: dor sem instabilidade.
- Grau II: dor, instabilidade, contudo, com algum grau de “firmeza” ao final do movimento (endpoint).
- Grau III: instabilidade grave.
A luxações (perda da congruência da articulação) são traumas gravíssimos que podem determinar deformidades e rigidez dos dedos. Serão abordadas em matéria própria neste site (luxação dos dedos).
As lesões do ligamento colateral isoladas podem ser tratadas de forma conservadora.
O dedo deve ficar imobilizado em extensão por 2-3 semanas e após este período solicitamos que o paciente inicie mobilidade de flexão e extensão para se evitar perda de mobilidade. Pode-se proteger de novo trauma látero-lateral com solidarização com o dedo vizinho (buddy tapping).
Quando o paciente se apresenta tardiamente e o tratamento com imobilização não é mais possível, pode-se reinserir o ligamento colateral ou reconstruí-lo. Há diversas técnicas para a reconstrução, contudo, o risco de rigidez é muito maior do que no tratamento na fase aguda.
Após algum tempo, este dedo instável leva à artrose da IFP. Neste caso, devemos optar pela artrodese ou atroplastia, como descrito no artigo para artrose dos dedos, neste site.
Um fato curioso e que incomoda bastante os pacientes é o grande aumento de volume que acontece na interfalângica proximal e pode durar até 9-12 meses para regredir. Tratamento com drenagem de edema e diminuição da inflamação articular podem diminuir este tempo.
As lesões ligamentares das metacarpofalângicas (MFs) têm tratamento parecido com as lesões das IFPs e as luxações destas articulações também serão abordadas em artigo específico (luxação dos dedos).
Artigo escrito pelo Dr. Diego Figueira Falcochio
Médico Ortopedista especialista em Cirurgia da Mão e Microcirurgia